E lá estava eu de novo a caminho da casa dele, eu na verdade não entendia porque ainda persistia em “aparecer” todo mês. A chuva caia leve e suave fazendo mexer as folhas das arvores, molhando a terra e espalhando pelo ar aquele famoso cheiro de chuva que insistentemente tinha aquela solitária cidadezinha de Amsterdã.
Depois de alguns minutos observando a paisagem ao meu redor, finalmente chegara, mal prestei atenção no taxista me dizendo tchau, parei abismada pelo fato de tudo estar do mesmo jeito que deixara em minha ultima visita. Ao caminhar até a porta vi um rosto escondido na beira da janela, triste e solitário parecia nem ter notado minha presença.
Entrei na velha casa, meu salto alto fazendo um barulho tremendo perante aquele silencio; fui recebida gelidamente com um “não precisava ter vindo”, eu já esperava isso, não mudara desde...sempre. Ele estava abatido, velho com os cabelos grisalhos, mal tinha forças para caminhar ou até mesmo trocar de canal a televisão. Dei-lhe um beijo na testa e sentei-me ao seu lado, conversei bastante, porém sozinha, ele não me respondia com freqüência, nem se quer despertava algum interesse nas confissões da minha vida; era uma sessão com um psiquiatra mudo.
Depois de algumas horas, cansada de falar me dirigi até a cozinha, encontrei uma bagunça daquelas; a filha dele, a outra, que costumava dizer ser minha irmã (só para me irritar) nunca fazia nada, o deixava sozinho a Bse de sopas enlatadas e saia sem o deixar saber quando voltaria.
Eu a odiava, sim eu tinha certeza disso, e o sentia não por ela o deixar ‘pra lá’, mas por mesmo assim ele a preferir; esta era uma das minhas piores dores, em um belo domingo ele largara minha mãe e eu para se tornar o grande paizão dela, pra mim? Inadmissível, eu nunca compreendera tal feito.
Lavei as louças, fiz um refogado, galinha e arroz, tudo com pouco tempero e sal, o chamei a mesa e em silencio absoluto comemos, nem mesmo os talheres faziam barulho, mas foi bom, eu pude o observar e apesar de não ganhar um elogio senti que a tempos ele não comia algo tão natural.
O tempo passou, já passavam das dez, ele lia um livro na varanda e eu uma revista no sofá, era bom ficar um pouco próxima dele, me fazia lembrar de quando eu fazia parte daquela vida, de quando ele me tratava como sua princesa mas me levava ao futebol, me dava bonecas e me ensinava a diriir, saudade de quando ele me dava um beijo antes de dormir, saudade que quano ele preferia a mim.
Percebi alguns bocejos, ele estava com sono, pedi para que ele deitasse, eu iria organizar a casa antes de ir embora. Ele foi, meio contra vontade, mas demorou pouco até que dormisse e eu pudesse ouvir da sala a sua respiração dificultosa. Coloquei os remédios dele em ordem (dia, hora...) para que ele não se perdesse, afinal ele morava quase que sozinho.
Ao terminar me dirigi ate seu quarto, dei um beijo em sua testa e vi sua mão levantar para me fazer um carinho rápido e leve, uma lagrima ousou cair e quando eu já me virava para ir embora, ouvi ele dizer: “ Dorme com Deus Luisa, papai te ama”.
Meus olhos se encharcaram e chorei, não era de felicidade, afinal não era a mim que ele amava, não era meu aquele carinho, aquela afeição, eu não ,não era Luisa...feliz ou infelizmente. Tentei me acalmar, decidi voltar para casa a pé e logo que sai da casa avistei do lado de fora bem perto do carro um homem de pólo azul e branca, uma bermuda jeans e chinelo; ele me abraçou forte, palavras naquele momento foram desnecessárias, eu estava desnorteada, chorei muito a caminho de casa, mas pela primeira vez durante aquela noite eu me sentira amada, ao meu lado o homem que eu amava, o homem a quem eu podia ousar não dizer nada que mesmo assim me entenderia.
Por Lahis Nascimento Batista
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